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Mostrando postagens de 2017

"Onde me perdi?"

      Fabrício era um jovem publicitário de cabelos compridos e alma livre, que tinha um belo par de asas tatuado nas costas. Comunicativo, adorava fazer novas amizades por onde passava, jogava futevôlei na praia com a galera, dividia o apartamento com um colega e viajava a trabalho. Orgulhava-se em dizer que todos os seus pertences cabiam numa só mala, o que lhe possibilitava partir sempre que desejasse. Como acontece a todo mundo, um dia Fabrício apaixonou-se por um moça linda e entusiasmada, que conheceu em um dos eventos organizados pela firma. A cada dia mais apaixonado, estava certo de que seriam muito felizes. Não tinha como não serem!         Trataram de apressar o casamento, a fim de poderem desfrutar juntos a beleza e a leveza da juventude. Fabrício e a noiva, vestidos de branco e pés descalços, trocaram alianças e promessas diante de poucos convidados numa cerimônia íntima e alegre.   Apesar da pouca experiência, ele estava convicto de que estava embarcando na maior

Lá vem o verão

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Vem vindo o verão... Já posso senti-lo! Os dias tornam-se mais longos, o sol reluta em se pôr. A grama está mais verde, a minha e a do vizinho. O céu mais azul. Crianças tomam conta dos Pilotis dos prédios onde moram. E com elas, bicicletas, bolas, bonecas, patinetes motorizados. Observo espantada como se multiplicaram desde o último verão! Adolescentes reunidos pelos cantos, trocando confidências e gargalhadas. Sorriso no rosto daqueles que, embora cansados da correria da vida, sabem que com o verão virão também alguns dias de descanso. Noto um pouco mais de paciência e gentileza e entre as pessoas, nos elevadores, na fila do banco, no caixa do supermercado. De todas as demonstrações de que ele vem chegando, a minha preferida é aquela que se renova a cada ano: a esperança de dias melhores, que aquece os corações, faz os olhos brilharem e se derrama em um sorriso tímido e sincero.

"Metade"

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  Ela precisou colocar uma muda de roupas na mala e pegar a estrada, sob um céu azul limpo e ensolarado, distanciando-se da sua realidade por cerca de 300 km, para comprovar que, como imaginava, se vira bem sozinha. E a té se sai razoavelmente amarrando os laços do biquini ou passando filtro solar nas costas! Embora quase tenha duvidado quando se viu engasgada, sem alguém pra lhe bater nas costas e depois caírem juntos numa gargalhada de doer a barriga, ela é mesmo singular e inteira, exatamente como pensava.   Tão inteira que pode ser o que bem quiser! Inclusive a "metade" de alguém. E aqui o metade vai propositalmente entre aspas, já que cada um carrega em si um rico universo, grande demais para caber numa palavra pequena como metade.

Uma ou duas tranças

São 20hs de uma quarta-feira qualquer, ainda enrolada na toalha de banho, com o cabelo molhado, sentada diante do espelho, examino as marcas do tempo em volta de meus grandes olhos castanhos.  Lembrando-me das propagandas que vi numa revista de beleza que diziam ter chegado a hora de começar a investir em cosméticos antiaging , percebo também algumas rugas na testa.  "Será que esses cosméticos funcionam mesmo?", questiono. Num gesto um tanto automático, trago meu cabelo todo para a lateral do pescoço, reparto-o em três e começo a tentar trançá-lo. Começo e recomeço algumas vezes, sem muito sucesso. Termino um protótipo de trança, o qual finalizo com um pequeno prendedor, mas em poucos segundos o desfaço porque não gosto do resultado. "Por que nunca aprendi a fazer uma trança?!", questiono. Nesse momento, fitando meus olhos no espelho, sorrio e sou transportada para o passado. Apenas o meu corpo permanece ali na cadeira, enquanto minha alma viaja livremente, l

Que privilégio é poder voar!

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Chegou como quem nada queria, pousou e ficou ali tentando se equilibrar.  Equilibrou-se e depois partiu, não sem demorar o suficiente para minha tarde alegrar.  Ah se ele soubesse o quanto seu vôo me fascina!  Ou quantas vezes, olhando a imensidão azul do céu,  me imaginei em seu lugar... De olhos fechados, com meus braços bem abertos, o corpo alongado, a mente livre e leve, planando no alto. Que privilégio é poder voar!

Tempestade

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           Mar cos, um cinqüentão charmoso, bem apresentável, cabelos grisalhos minuciosamente penteados, barba perfeitamente aparada, recém divorciado e sem filhos. Acorda todo dia por conta própria dez minutos antes que o despertador toque, freqüenta os mesmos lugares, percorre os mesmos trajetos. Planeja comprar um pequeno sítio onde tem a intenção de refugiar-se tão logo se aposente, sonho que sempre foi somente seu. Ainda não se deu conta do divórcio, provavelmente porque sua rotina pouco tenha mudado depois da partida de Sônia. Talvez a sua mulher, agora ex, fosse mesmo invisível como ela afirmava nas discussões do casal e, por isso, ainda não tenha sentido sua falta. Sônia casou-se jovem e muito apaixonada. Ao longo dos anos, esforçava-se para agradar Marcos e atribuía as explosões do marido ao trabalho estressante, tentando justificá-las para si e para os amigos. Negava-se a enxergar que Marcos sempre foi uma pessoa-tempestade, daquelas que subitamente tornam qualq

O que realmente importa

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Eram nove horas da manhã da véspera de Natal. Enquanto esperava na fila do pão, Silvia conferia mentalmente sua lista de tarefas para o dia: sobremesa por fazer, presentes a embrulhar, camisa a passar. Alguém reclamava com a balconista sobre o preço da rabanada, que havia dobrado desde o último mês, outra lá atrás dizia que ela mesma faria as rabanadas da ceia de sua família.    Ao contrário do tempo que corria, a fila parecia não andar. "Justo hoje com  tantos afazeres esperando!"  Aproveitava, então, para repassar, em seus pensamentos, as receitas que se comprometeu a levar para a ceia na casa na sogra. "Meu Deus! Já estava me esquecendo que ainda preciso comprar os morangos para a sobremesa!" Ou seja, ainda enfrentaria outra fila ao sair dali, dessa vez na frutaria.    Ao que, de repente, teve seus pensamentos interrompidos por uma voz entusiasmada que pedia: "Moça, dá licença!" Antes mesmo que Silvia pudesse se mover para liberar a passagem, a moc