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2019

31 de dezembro de 2018. Ela na casa de sua irmã, com seus pais, avós, irmã e cunhado. Era uma noite chuvosa e fria, a mesa de jantar, embora simples, estava farta, e na TV ligada na sala passava o Show da Virada.  Enquanto isso, no quarto, ela se arrumava para, após a meia noite, ir a uma festa com a amiga que lhe dera o suporte emocional tão necessário desde o divórcio. Diferentemente dos anos anteriores, não sentia aquela emoção que lhe era característica dessa noite. Pela primeira vez na vida, não fez a retrospectiva mental de seu ano, tampouco visualizou o que gostaria de viver em 2019.  Deixar 2018 para trás já lhe seria suficiente!  Então o novo ano chegou, meio de supetão, já que para ele não havia planos, expectativas, anseios.  Chegou chegando mais trágico que qualquer outro: um imbecil no comando do país; em Brumadinho, um crime ambiental e social sem precedentes; jovens jogadores de futebol com um futuro lindo pela frente morrendo asfixiados enquanto dormiam.  Suas pr

Quatro estações

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Ali deitada no gramado, ainda úmido por causa do orvalho, bem verdinho como só a primavera o deixa, completamente mergulhada no azul celeste de 30 de setembro, com as duas mãos entrelaçadas sobre seu ventre melancólico tal qual o outono, seus pensamentos jorravam como a água gelada de uma cachoeira, encontrando -se em um mesmo ponto. "Quando finalmente serei agraciada? O que falta para que este inverno fique para trás? Ah! Se aquele teste tivesse dado positivo no último verão, hoje eu estaria com meu bebê nos braços" 📷 Crédito da fotografia: Bruna Pinheiro  @bruna.plima

Vinte e seis

Pudera eu ser Braços que envolvem Lábios que tocam os seus Colo que te acolhe Dedos que entrelaçam Olhos que sussurram Pudera eu ser Frio na barriga Arrepios na pele Gemidos ao pé do ouvido Suor e saliva Pudera eu hoje ser mais que saudade.

Sextou

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O despertador tocou às sete em ponto. Ela levantou-se e, antes mesmo de desligá-lo, deu uma bela espreguiçada.  Seguiu para o banheiro e, ao encarar-se no espelho, abriu um largo sorriso, daqueles em que, involuntariamente, os olhos se fecham como se sorrissem junto. Então colocou para tocar sua playlist preferida, chamada #sextou, e, enquanto tomava um banho quentinho, deu vida a uma cantora de chuveiro muito mais animada que um puxador de trio elétrico do carnaval baiano.  Ao final do banho, presenteou-se com uma ducha de água gelada, enquanto novamente sorria com os olhos fechados. "Agora sim estou pronta para encarar esta segunda-feira!", pensou.

Só por hoje não

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Enfim chegou aquele dia pelo qual ela esperava há meses. Foram horas e horas de planejamento silencioso até que ele finalmente chegasse. Balões coloridos em volta da mesa de jantar, bolo redondo de chocolate coberto por confeitos, alguns brigadeiros, Coca-Cola, guardanapos... Meu Deus! E a vela?! Como pôde se esquecer da vela com o número 6? Talvez fosse melhor pedir à sua mãe para comprá-la quando estivesse a caminho, pois estava muito nervosa para ir até a padaria. Certamente não resistiria a uma carteira de cigarro exposta atrás do caixa! "Não. Só por hoje não". Era um dia muito importante para cair em tentação: aniversário de seis anos de seu filho, o primeiro que comemorariam juntos desde que ela havia deixado a penitenciária. 

Tudo é por enquanto

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As cólicas do bebê O trânsito parado Um amor não correspondido O pavor do escuro A busca do desempregado O medo do desconhecido A dor de um luto Uma noite de insônia A infecção urinária Os dias de luta Todo e qualquer pranto Tudo é por enquanto Isso te conforta ou te preocupa? O saldo na conta bancária A neve na Estônia A sonhada promoção A esperança que ela mude O calor de um abraço O tônus muscular A euforia da juventude As férias de verão A glória do sucesso A bateria do celular O colo de mãe Tudo é por enquanto Isso te preocupa ou te conforta?

#tbt

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            Hoje enquanto escolhia uma foto para postar com a hashtag tbt nas redes sociais, senti um incômodo não pelas lembranças que as fotos trouxeram, tampouco pela nostalgia daqueles registros de momentos únicos, sequer pela saudade dos que já não estão mais comigo. Pausa para um pequeno parênteses que daqui a uns anos será completamente ultrapassado: #tbt significa Throwback Thursday,  quinta-feira do retorno, em livre tradução, usada para marcar fotos saudosas.            É o dia em que mais vemos fotos de um passado, antigo ou mesmo recente, dos amigos que seguimos nessas redes. Até aí acho uma brincadeira válida! A razão do meu incômodo vem de um questionamento interno feito pela minha intensidade - essa que tenho aprendido a assumir e abraçar - "quem definiu que quinta-feira é o dia da saudade?"          Minha alma intensa não cabe nessas convenções sociais de que domingo é o dia do desânimo nostálgico, segunda é o dia do mau humor, quinta o da saudade,

Sorte

                     Numa noite em que meus planos A, B e C se frustraram sucessivamente, você apareceu, completamente diferente do que costumava atrair minha atenção. Acaso, coincidência, sorte... ainda não sei do que chamar.                   Permiti-me ir além do que a razão me aconselhava. Abri-me para que você me conhecesse e, de certa forma, eu mesma conhecesse o meu novo eu, aquele que agora está sob nova direção, digo, ainda sob construção.                   Acredito que cada pessoa traz dentro de si um universo ilimitado e isso me faz querer conhecê-las, ouvir suas histórias, celebrar suas conquistas e por que não chorar com elas suas dores?! Por mais que eu desejasse mergulhar nesse universo que é você, minha insegurança me mantinha no raso, onde meus pés pudessem tocar o chão firme e seguro.                    Pude experimentar minha nova versão, a mulher com opinião e voz própria, que luta para desconstruir em si mesma e ao seu redor o machismo, o racismo, a homof

Convite

                        Há alguns dias, caneta e papel me chamam pelo nome. Assuntos enlaçam meus pensamentos. Palavras unem-se formando parágrafos em minha mente. Sigo fugindo. “Mais tarde!”, “Amanhã sento e escrevo.”, “Outra hora!”                    Fujo na vã tentativa de calar o que grita aqui dentro. Então, penso, sem parar, sobre superficialidades, amenidades, personalidades, tudo para não ouvir o convite daqueles, que me conhecem tão bem e sabem que é através deles que exorcizo demônios, retiro mordaças, pinto arco-íris, reescrevo finais, crio recomeços, ressignifico dores.                    Escrever é desnudar-me, é silenciar o que acontece do lado de fora e olhar para dentro de mim com meus próprios óculos. Por meio da caneta e papel, coloco luz sobre minhas sombras e deparo-me com a minha humanidade. Publicar o que escrevo me aproxima de quem me lê, me tira do lugar onde me colocaram, no qual nunca quis estar.                    Eis algo que sempre me gerou incômod

Seja!

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Florescer Flor e Ser Ser Flor Que visceja Além da dor Seja!

Carta a um objeto

Asa Norte/DF, 05 de março de 2017.                       Meu querido,                    Olhando agora para você aí empoeirado e largado na prateleira desta estante, imagino o quanto deve sentir-se abandonado, esquecido e até mesmo inútil. Logo você, que viu o DVD player chegar e ir embora, assim como, posteriormente, aquele pomposo aparelho de blueray que também não se demorou por aqui.                    Não posso negar que me abri às novidades tecnológicas que surgiram diante de mim e com isso você acabou, pouco a pouco, perdendo o seu lugar em minha vida. Quero te pedir perdão por isso e, principalmente, por ter, de certa forma, te prendido a mim mesmo quando já não te queria mais. Sinto muito, de verdade!                    O fato é que me acomodei com sua presença e, de alguma forma, te ver bem aí todos os dias foi te tornando invisível aos meus olhos. Estranho, não? Mas o que importa é que agora, finalmente, estou pronto para te deixar livre para seguir adiante. Ac