O que realmente importa




Eram nove horas da manhã da véspera de Natal. Enquanto esperava na fila do pão, Silvia conferia mentalmente sua lista de tarefas para o dia: sobremesa por fazer, presentes a embrulhar, camisa a passar.
Alguém reclamava com a balconista sobre o preço da rabanada, que havia dobrado desde o último mês, outra lá atrás dizia que ela mesma faria as rabanadas da ceia de sua família.  
Ao contrário do tempo que corria, a fila parecia não andar. "Justo hoje com tantos afazeres esperando!" Aproveitava, então, para repassar, em seus pensamentos, as receitas que se comprometeu a levar para a ceia na casa na sogra. "Meu Deus! Já estava me esquecendo que ainda preciso comprar os morangos para a sobremesa!" Ou seja, ainda enfrentaria outra fila ao sair dali, dessa vez na frutaria.  
Ao que, de repente, teve seus pensamentos interrompidos por uma voz entusiasmada que pedia: "Moça, dá licença!" Antes mesmo que Silvia pudesse se mover para liberar a passagem, a mocinha desconhecida, que aparentava cerca de dezenove anos, tascou-lhe um abraço e disse sorrindo: "Feliz Natal!" 
E seguiu repetindo, um a um, até que o abraço e os votos alcançassem a última pessoa da fila. Depois, cordialmente, desejou o mesmo aos atendentes do caixa e partiu, sem comprar absolutamente nada.  
O gesto inusitado daquela mocinha rompeu com a ansiedade que se instalava na mente de Silvia e, como mágica, desacelerou o tempo, que minutos atrás parecia voar. Caminhando tranquilamente para casa, Silvia, com um sorriso no canto da boca, lembrou-se do que realmente importa.  

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