Sorte


                     Numa noite em que meus planos A, B e C se frustraram sucessivamente, você apareceu, completamente diferente do que costumava atrair minha atenção. Acaso, coincidência, sorte... ainda não sei do que chamar.
                  Permiti-me ir além do que a razão me aconselhava. Abri-me para que você me conhecesse e, de certa forma, eu mesma conhecesse o meu novo eu, aquele que agora está sob nova direção, digo, ainda sob construção.
                  Acredito que cada pessoa traz dentro de si um universo ilimitado e isso me faz querer conhecê-las, ouvir suas histórias, celebrar suas conquistas e por que não chorar com elas suas dores?! Por mais que eu desejasse mergulhar nesse universo que é você, minha insegurança me mantinha no raso, onde meus pés pudessem tocar o chão firme e seguro.
                   Pude experimentar minha nova versão, a mulher com opinião e voz própria, que luta para desconstruir em si mesma e ao seu redor o machismo, o racismo, a homofobia, o preconceito; a que está criando com as próprias mãos, lágrimas, gargalhadas, escolhas e renúncias a vida que quer viver. E pude também perceber que tal versão precisa de alguns updates, que bom! Obrigada!
                   Cometi contra você algo que combato em meu discurso. Sim, te prejulguei. Olhei para você com minhas próprias lentes, míopes e embaçadas. Supus ver em você o que na verdade talvez só houvesse dentro de mim. Peço-te perdão por isso!
                   Com o que há de melhor em mim eu te dizia sim, enquanto com a boca eu dizia que não ao Universo. “Não estou preparada!”, “Não quero agora”, “É cedo”, “Não vou”. Inconscientemente, trouxe para o presente alguns pacotes pré-embrulhados que nele não cabiam: um pouco de lixo emocional, algumas crenças limitantes, uma pitada de incoerências. E, como era de se esperar, minhas profecias auto-realizáveis se cumpriram.
                   Em tão pouco tempo, a mulher que ora escreve já não é a mesma que, noites atrás, se apresentou a você. E isso eu posso chamar de sorte! Sua, minha e de quem quer que cruze o meu caminho por acaso ou coincidência.

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