Mar cos, um cinqüentão charmoso, bem apresentável, cabelos grisalhos minuciosamente penteados, barba perfeitamente aparada, recém divorciado e sem filhos. Acorda todo dia por conta própria dez minutos antes que o despertador toque, freqüenta os mesmos lugares, percorre os mesmos trajetos. Planeja comprar um pequeno sítio onde tem a intenção de refugiar-se tão logo se aposente, sonho que sempre foi somente seu. Ainda não se deu conta do divórcio, provavelmente porque sua rotina pouco tenha mudado depois da partida de Sônia. Talvez a sua mulher, agora ex, fosse mesmo invisível como ela afirmava nas discussões do casal e, por isso, ainda não tenha sentido sua falta. Sônia casou-se jovem e muito apaixonada. Ao longo dos anos, esforçava-se para agradar Marcos e atribuía as explosões do marido ao trabalho estressante, tentando justificá-las para si e para os amigos. Negava-se a enxergar que Marcos sempre foi uma pessoa-tempestade, daquelas...
Chegou como quem nada queria, pousou e ficou ali tentando se equilibrar. Equilibrou-se e depois partiu, não sem demorar o suficiente para minha tarde alegrar. Ah se ele soubesse o quanto seu vôo me fascina! Ou quantas vezes, olhando a imensidão azul do céu, me imaginei em seu lugar... De olhos fechados, com meus braços bem abertos, o corpo alongado, a mente livre e leve, planando no alto. Que privilégio é poder voar!
São 20hs de uma quarta-feira qualquer, ainda enrolada na toalha de banho, com o cabelo molhado, sentada diante do espelho, examino as marcas do tempo em volta de meus grandes olhos castanhos. Lembrando-me das propagandas que vi numa revista de beleza que diziam ter chegado a hora de começar a investir em cosméticos antiaging , percebo também algumas rugas na testa. "Será que esses cosméticos funcionam mesmo?", questiono. Num gesto um tanto automático, trago meu cabelo todo para a lateral do pescoço, reparto-o em três e começo a tentar trançá-lo. Começo e recomeço algumas vezes, sem muito sucesso. Termino um protótipo de trança, o qual finalizo com um pequeno prendedor, mas em poucos segundos o desfaço porque não gosto do resultado. "Por que nunca aprendi a fazer uma trança?!", questiono. Nesse momento, fitando meus olhos no espelho, sorrio e sou transportada para o passado. Apenas o meu corpo permanece ali na cadeira, enquanto minha alma viaja livremente, l...
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